Ilustrar textos subjetivos, sejam crônicas, poemas e, neste caso, haicais, é sempre um grande desafio. Eu tento captar a essência do que o autor quer passar, mas sem ser literal e sempre criando uma segunda obra, que dialogue com os escritos, que possa ser fruída separadamente.

No caso dos desenhos deste livro, como eu pude escolher entre 42 poesias para ilustrar apenas sete e como, ao contrário da maioria dos trabalhos que faço em ilustração, tinha tempo para executá-los, a experiência ficou mais prazerosa. Selecionei 12 textos e rascunhei a partir de imagens que me surgiam com as leituras, experimentando o máximo possível.

Depois das primeiras ideias, busquei uma identidade para os desenhos, tendo as listras como unidade em meio ao caos. Na sequência, escolhi sete ilustrações e fiz as versões finais a lápis, deixando o traço mais solto, livre e incorporando os erros do processo.

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Na hora da edição, decidimos que os desenhos seriam apresentados arbitrariamente, pois eles refletem temas que permeiam o livro todo. O equilibrista, por exemplo, é imagem dos trabalhadores do verso, sempre na corda bamba.

Os animais, o cachorro e a galinha, sugerem liberdade e prisão. O vira-lata da rua é livre, mas a natureza do cão sempre o faz querer ter um humano por perto, um dono (ou tutor, como dizem os defensores dos animais). A galinha é ave, mas não voa. A arte é livre, mas o haicai tem suas regras.

O copo armazena o uísque, a cerveja, a água -- líquidos presentes em vários haicais. A moça gorda é a inspiração, uma musa corpulenta, pesada. O escritor desmembrado fecha o pacote, fragmentado como os pensamentos do ilustrador.

FP Rodrigues