Uma coisa era o impacto sonoro promovido por KL Jay, outra eram as vozes ásperas de Mano Brown, Ice Blue e Edi Rock (que no álbum tem seu nome escrito como Edy Rock). Mas foi o discurso desses rapazes latino-americanos apoiados por mais de 50 mil manos que me derrubou. Nunca tinha ouvido, e poucas vezes ouvi posteriormente, tanta raiva na música popular brasileira (que me desculpem os punks) e um olhar tão aguçado e complexo – mesmo que ocasionalmente moralista, sexista e autoritário – diante das raízes e problemas das periferias brasileiras, da nossa eterna “Casa Grande & Senzala”, da luta diária dos subúrbios. Por causa de tudo isso, lembro muito bem da sensação de medo e euforia que tive após as primeiras audições do disco.”